Introdução.
O padrão azulejar deste marco é caracterizado pela Op Arte, cuja característica principal é a exploração de ilusões de ótica usando recursos artísticos como a alternância de cores para dar impressão de movimento, clarões, vibração e volume. A chegada do movimento modernista na arquitetura brasileira proporcionou a incorporação de conceitos modernistas a elementos arquitetônicos brasileiros, e os azulejos são um dos exemplos disto. Diversos padrões azulejares com motivos Op arte são encontrados na cidade de Belém, o deste marco utiliza isometrias de translação aliada à alternância entre preto e branco para a criação de uma ilusão de movimento.
História e Arte
Após o fim do período da borracha, a azulejaria começa a cair em desuso na cidade de Belém. Contudo, a tradição azulejar consolidada e enraizada no contexto cultural de Belém, permitiu que, as peças fossem novamente utilizadas na arquitetura em meados do século XX, trazendo uma nova abordagem para a azulejaria clássica que já era conhecida na cidade.
Em meados do século XX, em função da difusão do Modernismo no Brasil, consolidou-se no País uma mudança na arquitetura nacional, que chegou até Belém com inovações estruturais e estéticas. Os azulejos voltaram a assumir um papel importante na caracterização arquitetônica do período e passaram a misturar a cultura azulejar da região com a arte moderna.
A Op arte (ou arte óptica) , movimento característico do modernismo que traz em suas obras ilusões de movimento criadas a partir de recursos gráficos, como a alternância de cores.
Obras do artista húngaro Victor Vasarely.
Com o advento do modernismo na arquitetura belemense surgiram azulejos que se utilizam de motivos Op arte. Na imagem a seguir percebe-se a ilusão de profundidade, onde a maneira que os azulejos são dispostos cria a imagem de cubos no padrão azulejar.
Azulejo Op arte encontrado na rua Benjamin Constant.
O azulejo que destacamos no Marco Op Arte é encontrado na Avenida Padre Eutíquio, em frente ao colégio Santa Rosa. Nele percebemos a ilusão de movimento causada pela alternância das cores preto e branco. Ao lado temos uma reprodução computacional do azulejo estudado.
Reprodução do elemento, feita no software Geogebra.
Preenchimento do Elemento
A Op Arte no elemento azulejar apresentado pode ser identificada ao observarmos como este é preenchido. Primeiro observe o elemento antes de ser preenchido:
Preenchemos então o triângulo do canto inferior esquerdo, pintando-o de preto:
A seguir preenchemos os polígonos não adjacentes a este triângulo:
Continuamos este processo até que não hajam mais polígonos não adjacentes a preencher:
Percebemos então a utilização de uma técnica OP Arte para o preenchimento de um elemento azulejar, veremos agora como as transformações geométricas transformam este elemento num padrão azulejar.
Transformações Geométricas
Analisando as transformações aplicadas no elemento para a formação do padrão, encontramos simetrias de reflexão.
Temos uma reflexão em relação a uma reta $s$. Desta forma, para cada ponto $x$ na imagem da esquerda existem um ponto $x'$ na imagem da esquerda de modo que a distância d entre $x$ e a reta $s$ ($D(x,s)=d$) é igual à distância $D(x',s)$ e $D(x,x') =2d$.
É como se a imagem da esquerda fosse refletida por um espelho, gerando a imagem à direita.
Elemento transladado.
Por fim refletimos mais uma vez a imagem, dessa vez verticalmente, conforme abaixo:
Segunda reflexão, desta vez verticalmente.
A imagem obtida após as duas reflexões será nosso padrão azulejar, e é transladando-o que obtemos o tapete azulejar. Transladamos o padrão verticalmente e horizontalmente, ao longo de uma distância $a$ que corresponde ao lado do padrão:
(1)Abaixo temos uma animação que mostra as transformações de translação:
Transformações de translação aplicadas ao padrão, formando o tapete azulejar.
Assim nos fica evidente a interdisciplinaridade presente neste azulejo. Usamos a arte para construir seu elemento e a matemática para fazer surgir o tapete azulejar. Esta conexão é o produto final, aquilo que vemos na fachada dos prédios, um suspiro interdisciplinar sutilmente presente em nosso dia-a-dia na cidade de Belém.
Referências
ALCÂNTARA, D. M. e S. de; BRITO, E. R. S. de; SANJAD, T. A. B. C. Azulejaria em Belém do Pará: Inventário arquitetura civil e religiosa século XVII ao XX. Brasília, DF: Iphan, 2016. 344p.
SANJAD, T. A. B. C. Ação microbiológica nos azulejos históricos das fachadas de Belém, região amazônica. Pós: Belo Horizonte, v. 4, n. 8, p. 124-133, 2014.
WANDERLEY, I.M. Azulejo na Arquitetura brasileira: os painéis de Athos Bolcão. Tese de Mestrado. USP-São Carlos, 2006.
PANTOJA, Maíra. A azulejaria com tendências modernistas enquanto patrimônio cultural da cidade de Belém: Padrões decorados e monocromáticos. UFPA, 2017.
LIMA, Elon Lages. Isometrias. Rio de Janeiro: SBM/IMPA, 2007.